
Regressado recentemente de Maputo, a belíssima capital de Moçambique, é com preocupação e tristeza que escrevo estas linhas, dirigidas aos turistas incautos que, naquelas paragens, compram pinturas batik de qualquer maneira, pouco ou nada percebendo sobre o assunto.
Em primeiro lugar importa esclarecer o alcance da expressão "de qualquer maneira", para que não subsistam dúvidas sobre o que subjaz às palavras.
O dito "galinha gorda por pouco dinheiro" não se deve aplicar quando se quer comprar um batik, pois muito mais importante do que sucumbir ao apelo do vendedor "boss, vou fazer bom preço" – que é o que o turista incauto, nas mais das vezes, pretende – é saber, efectivamente, o que é que se está a comprar!
Mas, afinal o que significa realmente "saber o que é que se está a comprar"? Esta é a pergunta que todos se deveriam colocar quando compram qualquer coisa, incluindo batiks, para não descobrirem depois que compraram "gato por lebre"...
Em primeiro lugar, para além da assinatura do artista, há que conhecer o respectivo “traço” – o seu estilo particular de pintar – e os temas que o mesmo habitualmente pinta. Porquê? Pura e simplesmente para que não se caia na esparrela de comprar uma falsificação ou imitação que, actualmente, abundam em Maputo.
Importa agora definir o que são a falsificação e a imitação, e como as mesmas poderão ser identificadas.
A falsificação sucede quando alguém, podendo até ser um autor consagrado, pinta uma ou mais obras a pedido de um terceiro, e, em lugar de apor a sua própria assinatura, coloca o nome do aludido terceiro que lhe encomendou o trabalho, para que resulte na aparência de que é deste último a autoria das obras. A imitação, por seu lado, verifica-se quando determinado pintor executa uma obra reproduzindo ou copiando o “traço” e/ou o tema pintado por um outro artista consagrado.
Verifica-se ainda uma outra situação, que, na nossa opinião, desvaloriza desde logo o batik, que é o caso em que o autor executa realmente a obra, e assina-a com a sua assinatura verdadeira, seguida de algum tipo de sinalética (letra, pontos, algarismos ou outras). Essa sinalética visa identificar o “dono” da obra, ou seja, quem a encomendou ao artista na modalidade de "guevar" (compra para revenda) para depois a entregar para venda, à consignação, a algum vendedor operando num dos mercados de Moçambique. Neste caso, a obra é autêntica, mas a assinatura que nela consta apresenta-se desvirtuada, pelo que, neste caso concreto, podendo eventualmente a obra apresentar algum interesse decorativo – muitas vezes, não é o caso – quer o seu valor financeiro, em termos de futura alienação, quer o seu valor coleccionista, encontram-se irremediavelmente comprometidos.
E não falamos aqui da assinalável perda de qualidade de muitos batiks à venda naquelas latitudes, desbotados quer por exposição à intensa luz solar, quer por terem apanhado chuva, quer ainda porque o autor pintou a obra a trouxe-mouxe para rapidamente a “despachar” e, assim, embolsar alguns meticais.
Muitas destas condutas, assumidas quer por artistas quer por vendedores, resultam em grande medida da falta de respeito de muitos turistas de diversas proveniências que, apercebendo-se da fragilidade económica e financeira em que vivem os moçambicanos, com eles negoceiam com base na pressão e chantagem psicológica.
Em qualquer dos casos acima mencionados, a identificação da “anomalia” passa pelo conhecimento profundo do “traço” de cada um dos artistas, e, confirmando-se a fraude, o batik que se comprou não passa de um trapo ou farrapo sem qualquer valor, venal ou coleccionista, sendo que o único interveniente que ganha alguma coisa no negócio é o vendedor que enrolou o “chico-esperto” que o “espremeu” no processo de compra!
Não gosta de comprar "gato por lebre"? Então não compre batiks “de qualquer maneira”!