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O espanto
O espanto

O espanto

Título: O espanto

Dimensões: 75cm (L) x 100cm (A)

Técnica: Óleo sobre tela

Em “O espanto”, óleo sobre tela e criação do mestre Azymir, o instante torna-se eternidade. A pintura fixa no tempo aquele segundo raro em que a normalidade se rompe e o inesperado irrompe como um clarão no coração da vida quotidiana. Não se sabe exactamente o que aconteceu — e talvez seja precisamente por isso que o assombro se torna tão absoluto. A sociedade suspende a respiração, como se o mundo tivesse sido surpreendido em pleno movimento.

O que Azymir nos oferece não é apenas a imagem de um acontecimento, mas o retrato colectivo de uma emoção. O espanto espalha-se de rosto em rosto, de gesto em gesto, como uma onda silenciosa que atravessa o espaço e os corpos. Há rostos boquiabertos, olhos escancarados, mãos que se elevam num reflexo instintivo, acções interrompidas a meio. Tudo se detém, tudo escuta, tudo vê. A obra revela esse instante frágil em que do enigma, emerge a admiração, o espanto e o temor, que se confundem numa mesma vibração.

As sociedades humanas, habitualmente território da rotina, do conhecido e do previsível, transformam-se num palco de espanto. Aquilo que é pequeno torna-se imenso. Aquilo que é seguro torna-se enigma. O acontecimento inesperado — nunca nomeado, nunca explicado — ganha assim uma força ainda maior, porque não se fecha num significado único: é mistério aberto, eco prolongado, pergunta que permanece no ar muito depois de o olhar abandonar a tela.

Azymir domina com maestria esta tensão entre o visível e o invisível. O que se mostra é a reacção; o que se oculta é a causa. E é nessa distância que nasce a poesia da obra. O acontecimento pode ter sido um prodígio, uma ameaça, uma revelação, um erro irreversível ou uma bênção improvável. Cada observador projecta para dentro da pintura o seu próprio espanto, completando, sem o saber, aquilo que o artista, deliberadamente, deixou em suspenso.

O espanto” fala-nos, no fundo, da quintessência da condição humana diante do inesperado. Da forma como a vida, por vezes, nos surpreende sem aviso, rasgando o tecido da normalidade e obrigando-nos a reaprender a olhar. A sociedade em que Azymir se integra é a imagem de todas as sociedades. O seu espanto é o nosso. Porque também nós, no meio das nossas rotinas, somos por vezes chamados a parar — surpreendidos por algo que não pedimos, não previmos, mas que nos transforma.

No silêncio denso que a pintura sugere, percebe-se que nada voltará a ser exactamente como antes. O espanto não é apenas reacção: é também semente de mudança. E é essa subtil promessa de transformação que torna esta obra tão poderosa — porque nos lembra que, mesmo nos momentos mais tranquilos e previsíveis, o extraordinário pode surgir a qualquer instante.

O artista

Azymir, voz serena e luminosa da pintura moçambicana contemporânea, é um daqueles raros artistas plásticos cuja obra não se impõe pela extravagância, mas sim pela força tranquila de quem observa o mundo com atenção e o devolve na forma de poesia visual. Nascido na tribo Ronga em 1962 no Moçambique colonial, Azimir Chiluquete — que adoptou o nome artístico Azymir — desde cedo revelou a sua paixão pela pintura, construindo um percurso artístico sólido e profundamente singular, que, sem sombra de dúvidas, o remete para o plano dos criadores moçambicanos mais reconhecidos e respeitados de sempre.

Mestre nas técnicas de óleo e acrílico sobre tela, Azymir não procura apenas pintar: procura interpretar. O seu traço é contido mas seguro, sempre guiado por uma sensibilidade que ultrapassa a mera representação literal. Cada quadro é uma história contada em silêncio — um silêncio denso, cheio de significado, quase sempre ancorado na essência da vida da sociedade moçambicana.

Artista que vê para lá do visível, o olhar de Azymir capta nuances que muitos deixariam escapar. Interessam-lhe os pequenos rituais do quotidiano, como o trabalho na machamba, uma conversa interrompida pelo pôr do sol, o descanso depois da partilha, a cumplicidade familiar, os vínculos invisíveis que sustentam comunidades inteiras. São instantes aparentemente simples, mas que, nas suas mãos, ganham profundidade simbólica. Azymir parece recordar-nos que a verdadeira grandeza da vida reside nos gestos humildes, nos vínculos silenciosos, na dignidade que preenche os dias comuns.

Senhor de uma técnica, sensibilidade e harmonia raras, a execução pictórica de Azymir revela um domínio notável dos materiais e uma maturidade compositiva invulgar. O seu traço é disciplinado, firme, e conduz a narrativa visual com precisão, ao mesmo tempo que abre espaço para a emoção respirar. Nada nas suas telas é redundante. As figuras têm peso, presença e interioridade. O ambiente parece sempre pulsar uma energia discreta, quase espiritual. As composições são equilibradas, meditativas, construídas para que o espectador permaneça — para que observe com calma, como se estivesse perante um diálogo íntimo entre a tela e o tempo.

O mérito maior de Azymir é a sua capacidade de colocar a pessoa no centro da obra. Não idealiza, não romantiza, não dramatiza. Apenas revela — e essa revelação tem uma força particular. Nas suas telas há respeito, empatia e verdade. Há a consciência da luta, mas também da esperança. Há o peso do passado, mas também a leveza de um futuro possível. Há a memória do país e a visão de um artista que se sabe parte dele.

O percurso de Azymir — legado vivo já marcado pela maturidade — está em permanente evolução, demonstrando a sua obra a solidez de quem encontrou o seu caminho. Cada nova obra acrescenta mais uma camada a este universo estético coerente e profundamente humano, e é esta consistência — aliada à delicadeza do olhar e à honestidade do estilo — aquilo que faz de Azymir uma referência notável na pintura contemporânea moçambicana.

Azymir é, acima de tudo, um artista que nos ensina a olhar, a perceber o que existe para lá da superfície, e a encontrar beleza na profundidade, significado e verdade onde, as mais das vezes, ninguém pensa procurar.

As suas obras não são meramente para ver, são, essencialmente, para sentir...

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